Chegando lá, na Funhouse, olhei em volta e decidi: "quero ir embora". Mas resolvi ficar quieto, já que àquela altura do campeonato, todos estavam irritados comigo. O lugar cheirava a coisa temperada, a luz era ligeiramente amarelada, havia diversos pôsteres espalhados pelas paredes e as pessoas eram exóticas.
Prometi a mim mesmo que iria chegar, discretamente, sentar e talvez dormir um pouquinho. E o fiz. Não antes de entrar na banheira do banheiro e fazer gracinhas. E não antes de ser abordado, muito por acaso, por uma conhecida (aquela que tem 16 cânceres espalhados pelo corpo e ainda insiste em fumar). Eu não lembrava dela, e foi uma surpresa ela ter lembrado de mim. Ela perguntou como eu estava e todo aquele lenga-lenga de semi-conhecidos.
Depois disso sentei e dormi. Dormi pelo que me pareceram horas.
...
Acordei depois de um certo tempo e olhei em volta, procurando alguém conhecido e em especial para saber se ele ainda estava lá. Percebi que do meu lado havia um amigo meio desfalecido. E minha mochila jogada no chão. Ele não estava mais lá. Será que se irritou comigo e foi pra casa? Meus olhos insistiam em continuar fechados e eu ainda sentia uma forte tontura. Do meu lado direito um garoto colocava uma ficha na jukebox e uma música do The Smiths começou a tocar, numa altura considerável. Lembrei da minha amiga que teve coma alcóolico e ficou horas deitada comigo no chão. Será que ela estava bem? Ou melhor, será que ainda estava VIVA? Esses pensamentos se espalharam pela cabeça de uma forma confusa e eu já não sabia onde estava e o que fazia ali. Pensei: estou ficando louco. O meu amigo do lado se mexeu e eu decidi levantar e fazer alguma coisa, pra passar o tempo. Já que ainda era 2 horas e alguma coisa da manhã. Joguei a mochila nas costas e desci para a pista, com os olhos semi-cerrados de sono. Pessoas me olhavam com alguma coisa no olhar que eu não saberia dizer.
Entrei na pista pequena, não me lembro o que tocava lá neste momento, adoraria lembrar. Mais do que depressa o avistei ali no canto e fui caminhando lentamente em sua direção. Ele me informou que iria embora. Eu não pude relutar e nem insistir para ficar. Embora fosse a única coisa que eu queria naquele momento.
Não seria justo, depois do trabalho todo que eu dei a ele. A noite toda. Me conformei e dei um tchau, intensionalmente caloroso.
Passado isso fui pra frente da pista e encontrei o pessoal todo amontoado ali, sentado. Na pista. Começou a tocar The Cure e eu enlouqueci. Coloquei a minha amiga no palco e subi logo em seguida. Umas vinte pessoas dividiam o palco, ensandecidos. Comecei a fazer dancinhas absurdas lá em cima, as luzes me excitavam. E eu ainda, ligeiramente, bêbado me mexia freneticamente ao ritmo da música. Do meu lado tinha um garoto dançando sozinho. De olhos fechados. Imaginei que ele estivesse numa brisa do inferno.
Fiquei ali dançando por horas com a minha amiga. Depois de um certo tempo, todos sairam da pista. Eu não. Não queria sair dali tão cedo, e não saí. Fiquei sozinho no palco, enquanto algumas pessoas dividiam a pista. A cada minuto que se passava, músicas mais legais iam tocando. Crash! uma garota acaba de quebrar uma garrafa de cerveja no palco. Me incomodei e continuei dançando. Depois do que me pareceu meia hora, mais ou menos, vi meu amigo entrando na pista e caminhando na minha direçãol (depois descobri que não foi meia hora, e sim no mínimo umas TRÊS HORAS). Ele disse que estava todo mundo embora e me ameaçando deixar lá sozinho. Fiquei irritado, mas fui. Lá no caixa enquanto todos pagavam a sua respectiva conta, eu escutei You Only Live Once dos Strkes tocando na pista. Sem nem pensar corri até a pista de volta e continuei, enlouquecido, a dançar. Como se não houvesse mais nada a se fazer no mundo, a não ser se jogar no ritmo da música. Cobicei, grandemente uma garota trajando vestido de avó e cabelinho curto de indie, que dançava na minha frente. Eu percebi que era a mesma menina que tinha me dado mole no palco, algumas horas antes. "Oi, minha amiga tá chavecando um cara, posso dançar com você?" Pode - respondi arrogantemente. Ok, fui idiota e mais tarde vi ela se esfregando em uma garota. Tsc tsc. Tudo bem, já que eu estava super de boa em relação a pessoas, eu estava realizado, já que ele havia estado lá comigo por um bom tempo. E cuidou de mim, mesmo bêbado e sujo.
Passado um tempo, a música ainda nem tinha acabado e lá estava meu amigo novamente me chamando. Perguntei que horas eram. Cinco horas da manhã. Ok, vai, vamos...
Passei minha comanda no caixa e não paguei absolutamente nada (Aniversariante é vip e ainda ganha um drink. Eu achei melhor não beber o drink, por motivos óbvios).
...
Saímos e fomos para um bar.
Chegando lá, cada um pediu um salgado. Eu não. Pedi duas garrafas de água (a sede estava me matando). E bebi uma em um gole só, e gentilmente cedi a segunda pra minha amiga.
...
Cheguei em casa sujo de vômito até as meias, com a dignidade perdida, um sorriso idiota no rosto, uma fome do cão - que me fez comer uma pizza velha que encontrei no microondas - e com uma dor irritante nas costas e nas pernas.
Tirei os tênis e caí na cama. Sem tomar banho mesmo.
Dormi até as três da tarde com uma ressaca dos infernos e um mau humor desgraçado. Passei a tarde toda vendo DVD's de novelas japonesas...