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12 de mar. de 2011

Pequenas Lembranças

Manhã chuvosa de domingo. Café na padaria, alguns trocadinhos a menos. Claro, pelo porte da padaria, eu achei que fosse dar mais caro. Surpresa. Um maço de cigarro a mais. Me acompanhou até o metrô. Eu feliz da vida, com a mochilinha cheia de roupas. De volta para casa, quase tão bom quanto o dia anterior. Eu estava feliz. Eu era feliz.

Não faz sentindo algum, pra quem não sabe do que se trata. E ninguém sabe, certamente. Só eu. E talvez um outro alguém. Mas acho que não, então vamos considerar que só eu entendi. Entendi e fiquei feliz pela lembrança. Quase tão feliz por ela ter existido um dia. E por ter sido real. Dias difíceis. Tem sido dias complicados em que eu me arrasto e me prendo a qualquer lembrança boa do passado, só assim eu me sinto vivo, respirando, e arrisco dizer, bem.

Nada disso é real. É um espelho do que ficou pra trás. Não deveria me importar com nada disso. E acho que não me importo mesmo. Escrevo pela lembrança e pelo valor do que ficou pra trás.

E esse é mais um surto silencioso da madrugada. Acho que vou desenhar.

Vontade de comer alguma coisa com bastante queijo derretido.

11 de fev. de 2011

Aquelas noites de verão

Eu ainda posso lembrar daquelas noites quentes. Ah, como posso. Aquelas noites que eu caminhava pela cidade, meio entorpecido pelas luzes amareladas. A cidade barulhenta, cheia de gente, aquele caos, calor, muitos carros passando e eu ali. Andando sem destino. Andando sem rumo algum. E por mais que os pés cansassem, estava tudo bem. Tudo ok. Era só sentar e fumar um cigarro, ficar observando a minha fumaça dançando em volta do meu corpo. Tudo isso me enchia, me fazia sentir. Minha testa suava, mas estava ok. Eu estava sozinho, tendo a melhor companhia naquele momento. O meu eu. O meu eu mais agradável. Aquele que raramente se mostra por completo. Aquele que chora e fica contente.

Ah, aquelas noites de verão.

4 de fev. de 2011

As luzes do parque

Era uma noite muito quente. Muito quente mesmo. Eu segurava uma latinha de coca cola normal. Isso já era um fato, no mínimo, atípico. Eu estava num daqueles dias completamente existenciais, daqueles que você para e se pergunta o motivo de estar vivo, sem vontade de nada e num parque de diversões de algum canto do litoral.  Eu olhei pra cima e vi apenas as luzes coloridas dos brinquedos, e em algum momento pensei que seria muito legal ter uma camera para fotografar aquilo, mas logo esqueço quando vejo meu pai e minha irmã descendo por uma queda da montanha russa vagabunda.

Em alguns instantes eu estaria sentado num carrinho, dentro de uma casa dos horrores fajuta, tentando assustar a minha irmã. E naquela hora eu esqueci de tudo e fui feliz de verdade. Me senti como uma pessoa normal. Sem fingimento algum.

21 de jan. de 2011

Café e cigarros

E como nos velhos tempos, eu me vi sentado naquela cadeira de madeira tão familiar, em meio a umas mesas molhadas, e algumas cadeiras em igual situação. Eu apoiava o pé numa cadeira à frente e de minutos em minutos bebericava do meu copo de café com leite gelado e sem açúcar - por favor. Dividíamos os cigarros e soltávamos alguma risada, ocasionalmente. E como nos velhos tempos, nós estaríamos ali, por horas e horas a falar sobre a vida, as pessoas, as nuvens, a grama, os bolinhos fritos, medos, alegrias e gracinhas, ou qualquer coisa que viesse à cabeça. Nessas situações o horário sempre pareceu um mero detalhe, algo secundário e eu nem tinha mais obrigações a cumprir e compromisso algum com alguém ou algo. Sempre fora assim. E o que estava adormecida, simplesmente acordou e voltou a ser como sempre foi. Há muito, eu não me sentia feliz como naquele momento.

2 de nov. de 2010

The good old days

Lembra daquele dia na casa da Fernanda? Do frango frito, vinho e croquete de farinha. Lembro de estar feliz naquela época. Lembro que brincávamos de ser um casal feliz. Lembro do saquinho com chocolates, lembro de ter ficado com a Nany e ter tirado a minha roupa, bêbado. Lembro de tantas coisas desse dia que eu nem gosto de pensar muito, porque eu sei que elas me deixam saudoso. Saudoso de um tempo, de situações e de sentimentos que não irão voltar. Sinto tanta falta dessas madrugadas alegres, do choro em conjunto, das alegrias, dos cigarros divididos, dos quilos de carboidratos, das garrafas de martini e jurupinga, das nossas manias, das nossas danças, da nossa libertinagem e dos nossos medos. Sinto falta de tudo isso, e mais do que isso, sinto falta de mim mesmo.

11 de out. de 2010

Fuga

Daí que agora eu estou aqui, olhando para o monitor. Encarando essas letrinhas que estão sendo digitadas, olhando para esse monitor monótono que eu tanto aprendi a detestar. Dedesto-o porque é a coisa que mais repousa sob os meus olhos, durantes seis dias da semana, por oito horas diárias, e isso não é tão legal quando se tem um mundo inteiro para ver lá fora. Tudo bem que eu gostaria muito de mais de estar olhando para o teto branco do meu quarto. Sozinho, no silêncio da minha casa - que é outra coisa que eu aprendi a detestar, porém é aquele detestar que a gente se habitua e nem reclama mais. Apenas acostuma. E é lá que eu gostaria de estar. Na solidão da minha casa, onde eu posso escutar uma agulha caindo no chão. Daí que amanhã é feriado, e eu combinei de sair com a minha tia, dormir na minha vó e visitar uma outra tia. Gosto da minha família, mas confesso que é algo que tento evitar ao longo dos últimos anos. Eles fazem eu me lembrar quem sou eu, aquele eu que eu tanto tento apagar silenciosamente. Quando era mais novo, tinha fantasias de sumir e voltar reinventado. Arrancando admiração de todos. Sim, eu sumi e voltei reinventado. Porém não consegui a admiração alheia. Sei que a primeira coisa que a minha vó irá falar quando me ver é sobre o meu corpo. Se ele diminuiu ou se ele aumentou desde a última vez que nos vimos - há aproximadamente uns 8 meses atrás. E ela vai falar. Vai falar de um jeito cruel, que vai me deixar triste. Assim como todos irão. Eles sempre falam. E eles vão falar de como eu mudei, de como eu era e de como eles gostariam que eu fosse. Mas eu não quero ouvir. Não hoje - talvez nunca, admito. Eles irão me cutucar e me causar um estranhamento ao me lembrar de coisas. Coisas bobas, para qualquer pessoa, mas não para mim. Eles irão me lembrar do garoto fraco, loser, triste e mimimi que eu já fui. Não que eu não seja mais, é que eu aprendi a reprimir. Eles irão fazer eu me sentir diminuto diminuto dominuto novamente. E tudo o que eu menos queria hoje é me sentir diminuto. Eles irão falar sobre como sou carente, e tudo que eu não quero passar na minha imagem é essa carência nojenta. Enfim. Desejem me sorte.

E eu ainda continuo querendo estar na solidão do meu quarto e no silêncio estrangulador da minha casa.

28 de set. de 2010

Do tempo despretencioso e triste

Gostava do tempo que eu sentia prazer em sair com as pessoas, que ninguém precisava insistir pela minha presença. Gostava de andar por aí, sem sentido, sozinho. Gostava de fazer minhas loucurinhas e sentir que eu tinha meus segredinhos. Gostava de ousar e desafiar a mim mesmo. Gostava de passar as noites acordados por aí. Gostava de conversar com desconhecidos em cafés, de madrugada. Gostava de fazer tatuagens por impulso. Gostava de aparecer com piercings a cada mês. Gostava de voltar para casa no fim de tudo isso.

Eu gostava de ter mais vida.

Isso tudo me veio na cabeça graças à uma música.

21 de set. de 2010

As coisas que não contarei aos netos que não terei

Tive o primeiro porre da minha vida aos três anos de idade. E não foi uma única vez. Já fiz cocô numa árvore, quando eu tinha 7 anos de idade, porque todos os banheiros da casa da minha vó estavam ocupados. Costumava cortar os cabelos de todas as bonecas da minha irmã, certo dia eu molhei elas e guardei dentro de um baú, quando acharam só subiu o cheiro de fungos. Já escrevi todos os palavrões possíveis no muro de uma vizinha minha, porque estava com raiva dela. Lambi o peito da minha amiga, em plena praça pública à luz do dia. Costumava roubar comida da geladeira da escola. Cabulava aulas do ensino médio para perambular pela PENHA. Ajudei a organizar uma decoração do PT na sala de um professor do PCO. Já saí muito louco por aí, conhecendo pessoas, ficando com elas para conseguir bebida e acordei na frente do Glória, desmaiado, com a minha amiga do lado (desmaiada também). Nadei pelado na praia. Cortei o cabelo da minha amiga e deixei-a com 4cm de franja (medido na régua). Tive coma alcóolico no dia do meu aniversário de 20 anos. Fui em um puteiro de cinco reais (ainda ganhava um drink) e fiquei horrorizado com o que vi ali dentro, confesso. Perdi 25kg em menos de meio ano. Já tive compulsão alimentar na Rua Augusta de madrugada, depois de ser chutado por alguém que eu gostava, juntamente com uma amiga, sentado na calçada. Já dormi no motel com duas amigas e não fizemos nada (fomos apenas para dormir). Já beijei TODAS as meninas do meu círculo de amizade. Já corri pela paulista e caí num tablado de madeira, com todo mundo me olhando. Já escorreguei da escada de uma balada, fazendo todos cairem também (efeito dominó). Costumo reconhecer atores e atrizes pornô na rua. Nunca briguei na escola. Sei fazer o melhor macarrão alho e óleo do mundo. Já fui emo. Já dancei sozinho na rua. Já tive cabelo azul, loiro xuxa, verde e roxo. Passei trote na casa de amigos. Já fiz pessoas se masturbarem na cam pra mim, fingindo ser uma garota gostosa (me divertia muito às custas daqueles moleques babacas). Costumava pegar a extensão do telefone e ficava ouvindo conversas de "gente grande". Já fiz uma garota mudar de escola por minha causa, porque inventei que ela ficava falando sobre sexo para mim. Já comi um bolo inteiro, em menos de uma hora.
E isso é o que eu me lembro agora.

19 de set. de 2010

De uma lembrança

Era um dia frio, assim como está hoje, se a minha memória não falha. O que tem a chance de 50% de acontecer, já que me recordo absurdamente de algumas coisas e sou deixado para trás pela minha memória em outras tantas vezes. Mas isso não importa. Estávamos sentados na frente de uma pastelaria bacana, conversando sobre os nossos planos. Eu com aquele e você com aquela. Ficamos naqueles "oun" por alguns minutos. Eu olhando para você, você ficando vermelha e mandando eu parar. Eu não parava. E assim passou aquele dia. Você louca para chegar em casa e descarregar suas fotos e mostrar para a pessoa que você queria impressionar e eu torcendo, mentalmente, para que o meu também fosse arranjado.

Depois de um tempo surgiu a resposta: não deu certo.

Assumimos aquela condição e voltamos ao ponto zero. Vegetal. Pedra. Porta. Ou o que queira chamar.
...
Em uma outra noite, estaríamos fora de um restaurante com uma decoração bonita e um pessoal que não conhecíamos, fumando. Usamos isso como desculpa para falarmos de nossa satisfação sem ninguém escutar. E em partes para poder respirar, já que lugares como aqueles não nos agradam, embora a companhia não podia ser melhor. Eu contava, pela primeira vez com tanta dose de açúcar, sobre a minha felicidade atual. Você contava a sua, já com seu habitual açúcar, que eu novamente me acostumei. Gosto da sua cara de boba, devo dizer. E eu com o meu típico sorrisinho insinuado no canto do lábio, que você tanto conhece. Isso foi o suficiente para percebemos em que condição estamos.

Mas a vida é muito irônica, devo admitir. Ou talvez a nossa hora tenha chegado.

16 de set. de 2010

Aleatório

Me empolguei de verdade naquele momento. Um copo atrás do outro. Alguns flashes de beleza, riqueza, poder e tudo de lindo desse mundo me passaram diante dos olhos. Bebo, fico rico, sensual e poderoso. É sempre assim. Levantei, fiquei de pé. Não dava mais para continuar sentado. Tinha que fazer alguma coisa. Ninguém notou. Sentei novamente e a minha cabeça girou. O estômago embrulhou e depois de cinco segundos eu estaria praticamente deitado no chão de um banheiro, me apoiando na privada e colocando tudo para fora. Uma mistura ácida, com gosto industrializado e uns pedaços de massa.

27 de ago. de 2010

Lembranças matutinas

Eu estava na segunda série. Era quietinho, mas também não fazia nada na sala de aula. Perto de mim, a apenas algumas carteiras de distãncia, sentava a Elaine. Uma menina gordinha, com cabelos loiros compridos. Nervosa. O apelido dela era Mônica. E mais adiante, ainda perto de mim, sentava um menino com o mesmo nome que eu. Vinícius. Vinícius Brusandim, eu ainda lembro do nome e nem me importo de ele jogar o nome dele no google e cair aqui. Enfim...lembro de que os dois começaram a "namorar". Sabe namorinho besta de criança? Então, NÃO era desses. Até onde eu podia entender na época, eles já faziam sexo e tudo o mais. Lembro de ter me chocado grandemente no dia em que eu vi esta cena: Elainona, toda sentadona lá no auge de sua gordura, fazendo carinho na sua amiga xana, dizendo a seguinte frase (por deus, ainda me lembro exatamente dessa cena): Calma, filhinha...você já vai comer. E nisso olhou para o Vinícius Brusandim e riu. Ele riu de volta.

Outro episódio parecido foi me acontecer alguns anos mais tarde. Mais precisamente na quarta série, quando me mudei para uma escola particular - onde permaneci penosamente até a oitava série. Daí que corriam uns boatos que uma menina chamada Sarah, que estudava na mesma classe que eu e era toda para frentex, havia feito sexo oral num menino chamado Tomas (que não era da minha classe). Ambos tinham 10 anos.

...

Eu tinha catorze anos. Morava com a minha vó por problemas com os meus pais. Passávamos a tarde toda inventando o que fazer. Fazíamos pão, pescávamos, colhíamos amoras na floresta (é sério) e mais uma série de coisas.
Hoje em dia, com a vida "corrida" que tenho, quase não vou lá na casa dela. Fica muito longe.

Já faz quase um ano que não nos vemos.

Sinto falta daquele tempo.
Muita falta mesmo.

Estou sentimental hoje. Me deixa.

15 de jul. de 2010

Perfume Francês

De manhã apareceu uma moça vendendo perfumes aqui no meu trabalho. O povo se juntou e ficaram experimentando os perfumes dela. Um pior do que o outro. Ninguém gostou de nada e a mulher saiu sem vender nada.

Isso fez eu me lembrar da época que eu era mais novo e fazia perfumes. Saía no quintal da minha vó e juntava a maior quantidade de flores, algumas cascas de frutas, pedaços de verduras e até alguns insetos mortos e misturava num litro de álcool e enfrascava em algum frasco de perfume vazio da minha tia e saía dizendo para quem quisesse ouvir que aquilo era perfume francês. Mas que eu mesmo tinha fabricado.

Ninguém nunca usou um perfume meu.

Nem eu mesmo.

5 de jul. de 2010

Um teto não familiar

Um teto não familiar. Olhando para um teto não familiar, eu apenas conseguia pensar no que eu tinha feito até agora. Porque era tão difícil se relacionar com as pessoas? Podia ouvir uma orquestra sinfônica formada por roncos de duas pessoas diferentes, bem ritmadas e um tanto irritantes. Porém estava até me divertindo com aquilo tudo, tirava um pouco o foco dos meus pensamentos. Não estava nenhum pouco triste, nem com raiva. Talvez o problema estivesse aí, eu ficaria muito feliz em ter algum sentimento naquele momento, Eu apenas fitava o teto, sem sentimentos. Mas com muitos pensamentos, como sempre. Minha cabeça não pára de trabalhar nunca, e mesmo nos momentos mais despretenciosos, sempre alguma coisa estará em foco dentro da massa cinzenta. Costumo dizer que um dia serei completamente abençoado pela minha cabeça, ou completamente fodido. Posso ser tanto um cara que criará alguma coisa muito essencial à humanidade (nem tão essencial assim, já teriam a inventado se ela tivesse essa importância toda) ou empurrarei algum carrinho de supermercado nas ruas da cidade, xingando inimigos invisíveis. Enfim, só o que eu queria era não pensar naquele momento. E é aí, na profundidade que eu atravesso a camada mais funda do meu incosciente, e todas as coisas vem à tona. Fazendo aquela bagunça enorme, que demora cerca de uns 7 a 10 dias para ser arrumada.

30 de jun. de 2010

Lacta por SAMBA

Sexta série. Era páscoa e decidimos juntar a classe toda para brincar de AMIGO CHOCOLATE. Lembro até hoje, um dia antes saí com a minha mãe depois da escola para comprar o chocolate. Paramos no WAL MART que tinha perto do trabalho do meu pai e compramos uma caixa de bombom LACTA (preste bem atenção). Ok, fomos até o balcão de presentes e mandamos embrulhar aquilo. Me lembro de ter tirado uma menina chamada Mônica. Ela era legal, então talvez por isso eu tenha me dado o trabalho de embrulhar. Enfim, no dia seguinte seria a entrega. Tomei meu banho, me arrumei e esperei a perua chegar. Com a caixa d chocolate debaixo do braço. Todo ansioso.
...
Na hora da entrega das caixas, entreguei o da minha amiga. Fiquei esperando o meu. Eu quase sempre dava o azar de ser um dos últimos a ser presentado. O que sempre me deixava com o coração na boca de medo da pessoa que me tirou ter faltado no dia (isso já aconteceu comigo TAMBÉM). Porém nesse dia, a pessoa não faltou, para o meu azar. E como presente eu ganhei uma caixa de bombom SAMBA da ARCOR. 

Fiquei cego de ódio. Sofri calado e praguejei a vida do infeliz inteirinha. Cheguei em casa e chorei de ódio. As lágrimas quentes descendo...Calado...de ódio, com a caixa de SAMBA na mão.

Até hoje sinto raiva de pensar.

10 de jun. de 2010

Inverno de 1995

Inverno de 1995. Excursão para o zoológico, eu estava sentado no banco do ônibus, observando a paisagem. Eu vestia uma blusa de moletom da Pakalolo, listrada de verde escuro e vinho. Minha vó ao meu lado, pensando em qualquer coisa. Seus cabelos muito loiros balançando com as curvas que o ônibus fazia. Eu cantarolava baixinho alguma música e agarrava a bolsa de couro da minha vó, ao peito. Apertava delicadamente a alça da bolsa, que era fofinha. Como se fosse preenchida com alguma coisa. Perguntei á minha vó o que preenchia aquilo, apontando para a alça. Minha vó respondeu que tinha lanche ali dentro. Fiquei imaginando como poderia haver lanches dentro daquela alça tão pequenininha. Passei alguns bons minutos refletindo sobre isso, até que cheguei à conclusão de que ela não tinha entendido o que eu queria dizer. Foi ali que tudo começou e eu vi que nem sempre seria compreendido. 

Me lembrei desse episódio hoje no metrô, quando senti o mesmo cheiro da bolsa de couro velho da minha vó.

6 de jun. de 2010

O guardião amarelo

Quando eu era criança eu costumava colocar características animadas à alguns seres inanimados. Eu permitia-os que me protegessem durante a noite. Eu morria de medo de escuro e não conseguia dormir num quarto sozinho. Me pareceu muito natural na época que alguns seres inanimados poderiam me proteger, como se fossem guardiões (ou seriam guardiães hahahaha). Eu tinha dois cachorros de pelúcia. Um era amarelo e outro era azul. Como nunca gostei de azul, o amarelo era superior. Além de que ele era preenchido com mais pelúcia, ou seja, o azul era dois degraus abaixo do amarelo. Isso fazia muito sentido na época. Pensando nisso, resolvi que o cachorro amarelo seria util pra mim. Nomeei-o como o meu guardião oficial. Ele tinha a função de me proteger. Eu dormia abraçado nele e nenhum pesadelo, nem o escuro e nada poderia me atingir.

12 de mai. de 2010

Do que eu mais sinto falta

Sinto falta das tardes despretenciosas que eu tinha há uns dois anos atrás. Minha vida se resumia numa sucessão de acordar, preparar um café da manhã saudável com granola e frutas, arrumar meu quarto, ficar algum tempinho no msn, cuidar dos cachorros (eu tinha dois na época), preparar um almoço - que se resumia em arroz, almôndega de soja e abobrinha com cenoura, quase todos  os dias, e ficar esperando a hora de dormir. Passava tardes e tardes sem conversar, sem sair. E eu gostava disso. Já disse que sou meio bicho do mato?

29 de abr. de 2010

Cleptomania e mente ociosas

Vivíamos duros e ociosos. Mais do que qualquer coisa no mundo. Estudávamos juntos e raramente fazíamos alguma coisa que prestasse. A minha vida, particularmente, se resumia a ir à escola, ficar sentado fazendo cara de conteúdo ou desenhando mangás eróticos nas carteiras, ou passando bilhetinhos pela aula e dependendo do professor, conversava alto na sala de aula e ria alto também. Chegava em casa e lia meus mangás, ou assistia pornografia na internet, ou comia várias coisas ao mesmo tempo ou então dormia. Era sempre a mesma coisa. Precisávamos de emoções novas. Descobrimos isso no dia em que decidimos roubar. Roubávamos qualquer coisa que desse bobeira, independente do valor que essa coisa tivesse. Tudo começou (lembro-me exatamente da ocasião) num almoço na escola (levávamos comida, porque estudávamos em outra escola de tarde) e a Aline é diabética, o que a obrigava a tomar insulina todos os dias. E como não é comum uma pessoa se picando no meio do pátio da escola, íamos até a cozinha das faxineiras e ficávamos lá sentados, assistindo ela se picando. Gostávamos quando ela enfiava a agulha na barriga e deixava ela pendurada. Era quase uma sessão de sadomasoquismo. Mas enfim...ela guardava a insulina na geladeira. Nesse dia ela pediu para eu pegar pra ela. Obedeci e quando abri a geladeira vi um pacote de leite em pó moscando, pela metade e estava louco para comer um doce. Sem hesitar, peguei o pacote (estávamos sozinhos na cozinha) e guardei embaixo da minha blusa. Rapidamente, saimos dali e levamos dois copos descartáveis junto, para poder fazer a mistura de leite em pó. Ainda colocamos adoçante para não engordar. Saímos pela escola desfilando com o nosso leite em pó. No outro dia achamos um bolo pullman e foi a mesma história. Isso tornara-se rapidamente um hábito. 

Certa vez, na empolgação do momento, decidimos abrir as marmitas da galere que estavam boiando na água quente do marmiteiro. Abrimos várias delas, e ocasionalmente ríamos quando encontrávamos algo bizarro. Foi nessas que um dia encontramos uma marmita com ARROZ FEIJÃO E COXINHA. Rimos tanto, mas tanto, MAS TANTO da coxinha na comida que na empolgação furtei uma. Tinha três. Ficou um buraco no arroz, como se alguém tivesse afundado as costas da colher na comida. Lembro de naquele dia ter rido O DIA INTEIRO disso.

Teve um outro dia que na nossa ronda diária pela geladeira encontramos uma peça de provolone inteirinha. Olhamos um para a cara do outro e pensamos: Pega! Pegamos a mochila e jogamos ele lá dentro, solto, sem plástico sem nada. Uma única peça de provolone solto no fundo da mochila, cheia de raspinha de apontador, tampa de caneta e outras tranqueiras. Comemos tudo no caminho da outra escola, no ônibus mesmo. Uns dias depois a Faxineira da escola, que utilizava a cozinha chamou a Aline de canto, já que ela era uma das alunas que usava a cozinha, e disse: Menina, preciso falar um negócio muito sério com você. Eu estava do lado da Aline e nem ousei olhar para a cara dela, já prevendo o que aconteceria. A tia nos contou que ela comprara uma peça de provolone (doze reais, ressaltou ela!) e nem tinha pago ainda, e mesmo assim alguém fora lá e roubara da geladeira. Disse assim que sabia que não foi a gente, mas de qualquer forma iria começar a trancar a cozinha e que quando quiséssemos usar, era só pedir a chave pra ela. Logo, precisamos parar de roubar coisas da geladeira, porque aí descobririam que era a gente, era só somar dois mais dois. Porém, não muito tempo depois, uns amigos nossos foram fazer uma festinha de aniversário para uma conhecida nossa. Compraram um bolo, uns pães e essas cachorradas todas e utilizaram a cozinha para cantar parabéns. Pra variar, estava eu e Aline lá, participando da festa. Mais cedo, quando Aline estava tomando sua insulina diária, vimos uma garrafa de coca cola na geladeira. Mas não pegamos. Planejamos pegá-la mais tarde aproveitando o aniversário como desculpa, já que entraria um monte de gente diferente na cozinha. Ao apagar as luzes na hora do parabéns, fiz um sinal para a Aline, que logo entendeu tudo e veio de mochila para a geladeira. Como era uma geladeira velha, não acendia a luz, então não corríamos o risco de ser vistos. Enfiei a garrafa na mochila (já vazia) dela e voltamos à posição do parabéns. Acenderam as luzes, e lá estávamos nós com a maior cara lavada do mundo, sorrindo e comendo as coisas da festa. Saímos antes de sentirem falta da coca.

Teve um outro dia na outra escola, que achamos um estojo jogado no pátio vazio. Pegamos e quando abrimos apareceram cifrões nos nosso olhos. Tinha MUITO dinheiro dentro. Tipo, muito mesmo. Mais dinheiro do que o meu bolso de estudante e não trabalhador já tinha visto. Resolvemos guardar o estojo dentro da mochila da Aline enquanto decidíamos se iríamos pegar a grana ou não. Afinal, era MUITO dinheiro. Mais tarde a coordenadora passou de sala em sala perguntando se alguém tinha visto um estojo marrom. Suei frio quando ouvi aquilo. Estava louco para sair de lá logo e ver o que ia fazer com aquela grana. Na saída, decidimos roubar uns apetrechos de desenho que tinha no estojo e decidimos pegar 30 reais cada um, seria muita cachorrada roubar tudo. Largamos o estojo embaixo do banco do pátio. Com 60 reais a menos.

Comprei a primeira parte da coleção do mangá de Sakura Card Captors.

Os espertões e os brigadeiros

Digitando o ultimo post, me lembrei de uma cachorrada que eu, a Aline e a Renata fazíamos. Deixe-me contar (adoro quando não tenho nada para fazer no trabalho), estudávamos os três juntos. Fazíamos Design Gráfico e mais vadiávamos do que qualquer outra coisa, ainda assim tirávamos notas boas (digo po mim, desculpe). Aline conhecia uma mulher que fazia lanches naturais e brigadeiros, e como a mulher pediu para que vendesse na escola, Aline resolveu ajudá-la e de quebra faturar uns trocos. Pois bem, mortos de fome que éramos sempre babávamos nos brigadeiros da menina e pra variar nunca tínhamos dinheiro para comprar nada. Um dia tivemos a genial idéia de pedir para a Aline deixar a gente comer os brigadeiros. Claro que ela não deixou, pois como explicaria para a mulher isso. Então, pensamos mais e mais. Até que chegamos ao absurdo de pedir pra ela deixar a gente morder as beiradinhas dos brigadeiros e enrolar de novo, assim ninguém notaria. O pior de tudo é que ela deixou. E as pessoas continuavam comprando. Todos os dias quando ela chegava, lá iam os três pro cantinho para morder todas as beiradinhas, de fora-a-fora. Renata já carregava até um saco de granulado na bolsa, para o caso de se ficar buraco no brigadeiro a gente enrolava de novo e jogava uns granulados por cima. Curiosamente, todos os dias um menino que eu não me lembro o nome, mas carinhosamente o chamávamos de Diferente (meu, ele era MUITO diferente de tudo nesse mundo) sempre escolhia os brigadeiros comidos (a gente sabia quais eram).

Ahhh...bons tempos.
Se der tempo, mais tarde eu faço um post sobre a nossa fase cleptomaníaca.

O espertão

Quando eu era criança eu tinha muitas idéias bizarras, pra não dizer maliciosas. No auge dos anos 90, aquela moda de tererê na cabeça, pochete virada para trás e elástico nos cadernos. Em meio a tudo isso, surgiu a moda dos piercings de pressão. Eu tinha um que eu colocava parte superior da orelha (AI GENTE) e ia todo feliz para a escola daquele jeito. Certo dia um garoto que eu gostava muito (era muito meu amigo) viu e quis um igual. Eu disse que na lojinha da minha mãe vendia aquilo (mentira, minha mãe nunca teve uma lojinha na vida) e que no dia seguinte eu levaria um pra ele em troca de três reais. Na minha cabeça eu ia comprar um novo (que era um real) e lucrar dois reais. Mas como, desde aquela época, até parece que ia dar certo, fui na lojinha (que não era da minha mãe) e não tinha mais nenhum piercing de pressão. Tinha que arrumar um, não importasse o jeito que fosse. Já que eu queria muito ganhar dois reais (AI GENTE) e de certa forma, eu tinha prometido para o menino. Cheguei em casa e fui inundado por uma brilhante idéia. Peguei um clip, abri e deixei o no formato (toscamente) de uma argolinha de piercing e vendi. Ganhei dois reais e o menino ficou com um pedaço de clip pendurado na orelha.