30 de jul. de 2010

Estilhaços de vidro

Desde criança sempre senti que existia uma parede de vidro entre eu e o mundo. Por algumas vezes cheguei a pensar em quebrá-la. Algumas outras vezes até consegui, com algum esforço. Mas sempre doía. Certa vez, no ano passado, decidi que não mais existiria parede nenhuma entre eu e o exterior. Tamanha determinação fez com que eu fosse com muita sede ao pote. Dei um soco tão forte na parede de vidro, sem proteção alguma nas mãos, que me causaram algumas boas cicatrizes fundas nos braços. Depois disso desisti. Decidi construir novamente o muro de vidro. Desta vez ainda mais forte, blindado. Da próxima vez não irei tentar quebrar. É uma grande bobagem. É frio lá fora.

27 de jul. de 2010

Claudia, o que você vai cantar?

Abri aqui pra postar alguma coisa, mas eu não me lembro o que eu ia escrever.

Então depois eu me lembro.

...

Apesar de tudo estou num misto de felicidade contida e pequena com uma leve tristeza, diria que até gostosinha.

Quero fumar um cigarro. Ainda não fumei meu cigarro da manhã.

Cheated hearts could be beautiful

Me sinto enganado cada vez que penso nessas coisas aparentemente sem importância. Tudo parece tão mais fácil do que realmente é, mas quando caio na realidade vejo que não existe facilidade alguma. De repente me vejo na frente de uma televisão, me perguntando incessantemente se vou ter um final feliz como aqueles dos seriados japoneses que assisto. Uma resposta com uma voz já tão familiar me responde um simples: não. Olho para algum desconhecido qualquer e me imagino num castelo alto, bonito, com criados e com qualquer pessoa me dando atenção, um chá quente e fazendo carinho na minha cabeça, como se eu fosse um cachorro feio e abandonado que deu sorte encontrando um dono tranquilo. Me sinto envergonhado de pensar isso e no mesmo momento a voz só me diz: não seja ridículo e se coloque no seu lugar. Tento me aprumar e levanto a cabeça o máximo que posso, meio que tentando fingir uma arrogãncia que não faz parte de mim.

not fine

Ontem acordei no horário certinho, me olhei no espelho, não gostei do que vi e eu realmente não estava contente com nada e com um mau humor absurdo. Resolvi não vir trabalhar, me auto-justificando com uma dorzinhainhainha de cabeça que me assolava.

Passei o dia todo assistindo a um dorama chamado SMILE, gastei e 30 reais de besteira no mercado e fiquei sentindo pena de mim mesmo por tudo e por nada, o dia inteiro. 

Hoje cheguei com a maior cara lavada esperando alguém perguntar porque eu faltei ontem. Mas ninguém perguntou e eu estou aqui sem nada para fazer.

Ah, nem sei...

As vezes algumas coisas demoram a acontecer. Mas elas sempre acontecem. De repente você se enche de vida de novo e acha que aquilo não pertence mais à sua vida. Quando você menos espera, lá estão elas de novo para te infernizar. Nem quero falar muito sobre isso. Sei que não vai resolver nada e sei que só vai servir para as pessoas se afastarem mais ainda de mim.

Tchau, vou comprar pão de queijo.

UPDATE: Comprei croissant de frango.

23 de jul. de 2010

Nada

Hoje é sexta feira. Nada melhor do que uma sexta feira bonita e com céu azul. Sim, como você deve imaginar eu não estou normal. Estou feliz. Não FELIZ, mas feliz. Entende? Então, acordei todo me sentindo o tal, o verdadeiro bambambam. Mentira, nem acordei porra nenhuma. Mas fica muito mais engraçado dizer que sim. Então, deixa pra lá.

Resumindo tudo: Estou bem feliz e no meu horário de almoço senti uma coisa que poucas vezes senti na vida: UMA VONTADE DE SER FELIZ, DE VIVER INTENSAMENTE, SENTIR A AREIA DA PRAIA NOS MEUS PÉS, TOCAR COM A PONTO DOS DEDOS EM DENTES DE LEÃO SILVESTRES DO CAMPO.
...
Decidi não almoçar e tomar uma garrafa de heineken. Tá, feito isso descobri que meu intestino funciona muito melhor com cerveja correndo pelo corpo. Daí que agora estou todo me segurando aqui.
...
Hoje deu uma peleja travada aqui no meu computador. Aliás, em todos da empresa. Daí que hoje de manhã, cheguei belo e folgado (me sentindo o bambambam) e abri os sites habituais que sempre abro assim que sento a minha bunda nessa cadeira, tais esses são: Facebook, Twitter, Hotmail, Gmail, Fotolog e Blog. Tá, fui abrindo, abrindo e abrindo e quando chegou no twitter e no facebook cadê? Apareceu uma mensagem bem grandona, vermelha dizendo que o acesso a esses sites estão terminantemente proibidos! Aí eu quase caí da cadeira e precisei de um copo de água com dois dedos de açúcar pra conseguir voltar ao normal. Chorei, me esperneei, me urinei inteiro, mas não adiantou nada.
...
Consegui burlar o twitter pelo menos. A priscilla descolou um programinha que abre o dito cujo.
...
Ainda faltam duas horas para eu sair desse lugar. Não sei se isso é bom ou se é ruim.

20 de jul. de 2010

De repente me bateu uma alegria maníaca, daquelas que vem sem motivo e duram mais ou menos uns trinta minutos ou o tempo de você ler alguma coisa desagradável na internet, e isso nem é difícil de acontecer já que me afeto com qualquer coisinha subjetiva. Coisa de quem é egocêntrico demais. E fato, eu sou egocêntrico demais sem ter um ego grande. Isso é possível? Não sei. Mas sou assim. Tenho o ego do tamanho de um grão de ervilha. Mentira, de uma uva vai...E ainda assim eu passo o dia inteiro pensando em mim. Hoje eu agradeci aos seres celestiais por me darem bastante trabalho, Pedi para judiarem de mim e de fato eles judiaram. E eu quis mais. Sabe, é tão chato você pensar em si mesmo o dia todo, e se julgar o dia todo e se criticar e se odiar e tudo de negativo. Cansa um pouco. Mas hoje eu tô bem legal. Tô no ponto pra poder passear bonitinho com alguém, conversar e até dar risada e contar piadas. É o jeito que eu mais me gosto. Olha, eu não sei o que eu estou falando. Mentira, sei exatamente o que estou falando, mas quando eu digo previamente que não sei do que estou falando, fica mais fácil pra justificar erros de ortografia e idéias tortas. Fica a dica. Mas hoje eu nem ligo. O blog é meu e eu escrevo do  jeito que eu quiser.
...
Uma coisa que eu daria um rim em troca? Um churrasco.
...
Acabei de receber uma mensagem bonitinha de dia do amigo e eu não conto quem mandou.
...
Feliz dia do amigo pra quem é meu amigo. Pra quem não é meu amigo, dou só um oi. Porque eu estou simpático hoje e o menino que trabalha do meu lado até perguntou, mais cedo, se eu tomei maracujina hoje. Eu respondi que não tem nada melhor do que uma noite de sexo selvagem (mentira, nem respondi isso, mas seria bem engraçado, e mais engraçado ainda se ele soubesse há quanto tempo eu nem sei o que é isso).

19 de jul. de 2010

11:16

Porque ainda são 11:16 da manhã e eu não vejo a hora de encerrar o horário de expediente logo. A hora mais esperada do dia, ao mesmo tempo a mais temida. O momento do dia que eu entro em contato comigo mesmo de uma forma muito mais direta, mal criada e até mesmo dolorosa. Isso na maioria das vezes. Não é uma regra geral. Tem dias que rola até um cumprimentinho básico, um oizinho, de repente até um abraço de mim comigo mesmo. Hoje será um desses dias, acredito. Nada de abraços, mas um oizinho eu acho que rola. Dia de andar na rua balançando os braços alegremente, ouvindo alguma coisa felizinha. Tudo "inho". Nada muito excessivo. Até que eu gosto assim.

16 de jul. de 2010

Frio, coração quente

Dia cinza, frio, cobertor de pelo xadrez, cama quentinha e fofa, televisão ligada nos desenhos matinais ou nos programinhas de receitas elaboradas demais pra qualquer mera dona de casa fazer, café com leite bem quente, pão torrado com manteiga derretida, mingau de aveia com canela por cima, carinho, pluma, fofo, rolando na cama sozinho, de preferência uma king size bed, se atirar na cama a distância, calça de moleton de 1997, blusão do mickey cheio de bolinhas, meias diferentes, touca, bolinhos de chuva, sopa de ervilhas, roupas escuras e sóbrias, sem banho, caneca de porcelana, fumaça do cigarro mais visível, cachecol de lã feito por mim mesmo (eu sabia tricotar), abraços apertados, sopa de macarrão, lã, suéter, pulovers, pipoca, filme besta que passa na globo, chuvinha fininha, o barulho da chuva batendo na janela, posição horizontal, silêncio.

Como ainda dizem que o frio é ruim?

15 de jul. de 2010

Perfume Francês

De manhã apareceu uma moça vendendo perfumes aqui no meu trabalho. O povo se juntou e ficaram experimentando os perfumes dela. Um pior do que o outro. Ninguém gostou de nada e a mulher saiu sem vender nada.

Isso fez eu me lembrar da época que eu era mais novo e fazia perfumes. Saía no quintal da minha vó e juntava a maior quantidade de flores, algumas cascas de frutas, pedaços de verduras e até alguns insetos mortos e misturava num litro de álcool e enfrascava em algum frasco de perfume vazio da minha tia e saía dizendo para quem quisesse ouvir que aquilo era perfume francês. Mas que eu mesmo tinha fabricado.

Ninguém nunca usou um perfume meu.

Nem eu mesmo.

Dia chuvoso

Ao entrar no vagão do metrô, notei um par de olhos me encarando. Olhei de volta e desviei o olhar rapidamente, odeio olhar diretamente no olho de estranhos. Nunca sei o grau de leitura de pensamentos deles, embora eu não estivesse pensando nada demais, sempre é bom proteger a minha cabeça. Não, não acredito na leitura de pensamento, não naquela que dizem que Deus faz, mas naquela historinha de que os olhos dizem muita coisa. E dizem mesmo. Então preferi guardar tudo pra mim e fiquei fitando a chuva grossa que caía lá fora. Intrigado que estava, olhei novamente para o par de olhos (com o rabo do olho) e percebi que ainda estava me encarando. Me senti invadido e, de certa forma, me embaracei inteirinho. Sempre fico assim quando me sinto observado por estranhos e sem saber suas intenções ao me olhar. Odeio olhares. Na hora eu não soube se deveria fazer alguma pose agradável, flertar por esporte ou se eu deveria continuar fingindo interesse pelas minhas unhas. Resolvi que continuar fingindo interesse pelas unhas seria melhor. Olhei para o lado de novo, meio fingindo que estava lendo uma notícia interessante na televisão do metrô e olhei diretamente nos seus olhos. Desviou. Covarde. Continuei na minha e peguei o celular do bolso, afim de mudar a música. O celular caiu no chão. Daí pra frente foi uma sucessão de pés, guarda-chuvas, bolsas, tudo molhado. Recuperado o celular, mudei para uma música feliz que nos conta como dezembro é um mês frio. Não me identifiquei graças às diferenças entre a linha do equador e não me senti triste com isso. Gosto de dezembro como ele é. Os olhos ainda estavam me encarando, sem expressão e eu só pude reparar na sua roupa. Uma roupa bonita. Um dia vestirei uma igualzinha. Um casaco bem estruturado. Me deu vontade de perguntar onde fora descolado, mas aí já seria demais e eu não sou tão cara de pau assim. Voltei a fingir interesse pelas minhas unhas e o maquinista (é maquinista?) anunciou a chegada da estação mais movimentada do metrô. Uma enxurrada de pessoas me colocou pra fora e quando entrei no vagão novamente, olhei em volta e não pude mais ver os olhos que me encaravam. Me senti aliviado. 

13 de jul. de 2010

Dancing in the Babylon

Tô numa vibe (agora, nesse momento...daqui há duas horas tudo pode mudar, ou menos) "the world is beautiful". Tudo isso graças a uma ÚNICA música de um cantor chamado Matt Costa (mete de costa, vai! Assim...ahhhh! Tá, parei), a música é fofíssima e se chama Sweet Thursday. Pra quem quiser e se interessar, vale a pena ir atrás. Inclusive, super recomendo as músicas desse rapaz em geral. Folk calminho, docinho, fofinho e tudo "inho". Neste exato momento, estou aqui balançando meus pés sob a mesa, e digitando essas palavras. Estou com vontade de viver. Isso é tão novo pra mim, tão complicado que eu não sei se eu gosto dessas sensação. Estou tão acostumado com o meu humor morno, que qualquer coisa extremamente gritante e quente e grandioso e laranja (associo sentimentos com cores) me dá um pouco de medo. Mentira, não é só um pouco de medo, eu fico completamente assustado. Quando você se ergue um pouquinho a queda é muito mais dolorosa, sempre penso nisso. Nem deveria, mas eu penso. Enfim...eu e a Joana decidimos traçar uns planos e tal, resolvemos nos permitir ser felizes. No meu caso é hora após hora (sou mais inconstante do que ela). Me permitirei ser feliz a cada hora do dia. Na verdade não é um lance de se permitir, é de se obrigar mesmo. SEREI FELIZ NA PRÓXIMA HORA. E na outra. E na outra. Até que um dia eu serei uma pessoa feliz de verdade.

Nossa, não estou conseguindo me conter. Odeio não poder conter as minhas emoções. É uma coisa tão excessiva, credo. Mas hoje tudo bem. Estou amando o mundo e qualquer coisa que colocarem na minha frente, eu direi que é bela.

Ontem alguém me ligou desesperadamente de um número desconhecido (atrapalhou o meu filme, de noite), Fiquei com preguiça de atender, era alguém de vocês? Imaginei que fosse a mariana, mas como eu não tinha certeza, não atendi porque corria o risco de ser meu pai (que também liga como desconhecido). Enfim, o cara do rock rocket está aqui agora. Acabo de dizer pra Priscilla no Gtalk, que o meu trabalho é um antro de celebs do rock independente nacional, Já perdi a conta de quantos "astros do rock" já vi aqui. É muito legal. Dia desses saí pra almoçar e dei de cara com o vocalista do Cachorro Grande, todo se sentindo estrelinha. Pfff. Eu gosto de Cachorro Grande, embora uma amiga minha diga que o vocalista tem voz de velha coroca.

Ai que vontade de sair pela rua dançando, tipo a Karen O no clipe de Zero.

8 de jul. de 2010

De um nada

Olha, faz muito tempo (faz?) que não faço meus posts sobre nada. Geralmente, faço eles para dar uma atualizada geral nos fatos semanais, quinzenais ou seja lá qual for a frequencia. Quero dizer-lhe que não me importo com você e faço isso para mim. Gosto de depois de um tempo saber como eu estava em determinado momento, tenho um pouco de fixação pelo passado e pelas formas que eu via o mundo e fora que escrever liberta. Mesmo que eu escreva somente sobre o caos do transporte público a que me submeto todos os dias, ainda assim, acredite: isso me liberta do ódio. Agora, nesse exato momento estou faminto, preste atenção, MUITO FAMINTO. Aí você vem com aquela pergunta: Ah! Mas porque você só pensa em comida?! Não é que eu só pense em comida, é que....Tá, você tem razão, eu só penso em comida. O tempo todo. Mentira, divido o espaço da minha mente com música também. Basicamente, penso em música e comida na parte do tempo que eu não estou pensando em mim mesmo (meu estômago roncou).

E nesse exato momento eu estou arrependido de ter aberto a caixa de nova postagem, porque eu já não estou mais com vontade de postar nada. Principalmente essas bobeiras, porém, essas linhas foram um tanto cuspidas e de certa forma eu gastei tempo com isso tudo, então acho muito desperdício de tempo simplesmente jogar isso fora e não postar nada. Por outro lado, um post vazio é um post vazio. Eu não trouxe nenhuma revelação bombástica (exceto a de que eu não me importo com você, mas eu também não sei até onde isso é novidade), não trouxe nenhuma benção divina ao universo e nem sou a diva do universo.

Só digo uma coisa: O dia está um saco, não tenho nada para fazer e ninguém para conversar. Talvez por isso eu esteja aqui, sentado na frente desse computador e me submetendo a esse papel idiota e escrevendo um monte de besteira. Não que eu rejeite isso, adoro uma besteira. Ainda mais quando ela se trata de divagações bestas e sem fundamento sobre o vazio. É, hoje estou bem vazio. Não tenho nada para pensar no momento e isso me irrita demais. Gostaria de algo mais profundo do que um prato de arrozfeijãobatatabifecebolasalada para pensar. Me dá um motivo pra pensar? Obrigado.

Olha, eu vou parar por aqui antes que eu comece a divagar sobre a cor da minha cueca e o tamanho do meu penis, o que seria bem desconfortável. E tem um senhor aqui no meu trabalho com um perfume de puta de esquina que está me deixando NAUSEADO e com vontade de fazer alguma loucura (QUALQUER LOUCURA). Arghh!

Sem mais.

Rota 66 - Santa Monica


A primeira vez que a vi, foi quando eu tinha 17 anos. Ainda estava morando com os meus pais em Detroit e tinha uma certa fixação por ela. Jeito meigo de ser, cabelos louros sempre presos para trás num coque e sua roupas em tons pastéis. Nunca troquei mais do que dez palavras com ela, mas eu sabia que ela sabia que eu a amava. Nos encontrávamos frequentemente na escola, dando encontrões meio propositais, meio sem querer. Eu fazia de tudo para chamar a sua atenção e ela sempre sorria. Apenas sorria. Passei a detestar aquele sorriso. Nunca tive coragem de me declarar à ela e com o tempo, a paixonite juvenil e platônica caiu na lembrança. Algo como uma estátua, que você sabe que está ali parada, mas que não pode fazer nada sobre,

O tempo passou e eu decidi de uma hora para outra, me mudar para Santa Monica. Havia recebido uma proposta de cantar em alguns bares da cidade. Junto a mim, levei apenas a minha velha guitarra azul turquesa e algumas peças de roupa. Não precisava mais do que isso. Peguei o velho mustang da família e me mandei, deixando aquele rastro de poeira pra trás. Não queria mais ficar em Detroit, as pessoas me enojavam e eu estava numa fase criticamente entediante. Estava afim de emoções novas. No velho rádio amadeirado do carro, tocava alguma melodia muito triste, o que me obrigou a acender um cigarro e cogitar parar em um bar perdido a esmo. Estava na famosa Rota 66. A tão temida rota 66. Logo de cara, dei uma olhada em volta. Tentei observar o interior do bar e, de certa forma, não me ofereceu nenhum perigo que me fizesse desistir de entrar. Um Ford vermelho antigo me chamou a atenção. Estava estacionado de uma forma muito torta, e o rastro no chão de terra seca que o seguia, podíamos deduzir o que havia sido uma bela estacionada. Ao me encontrar de frente com a porta de madeira e vidro do bar, pude ver um chiclete rosa colado em um dos vidros da frente.

Ao entrar, dei uma bela olhada em volta e não vi nada que me chamasse a atenção. Panquecas com mel e um copo de vodka. Na hora, simplesmente, não passou pela minha cabeça que não era uma mistura sensata. Mas eu estava pouco me fodendo para combinações certas e erradas. Daqui para frente tudo passou, ou muito lentamente ou muito rapidamente, ainda não posso afirmar com tanta certeza. Só sei que tudo pareceu parar de vez e eu tinha sido hipnotizado pela imagem esguia e de cabelos louros que se dirigia, decidida, ao balcão do bar. Neste momento fui interrompido pela chegada das minhas panquecas e minha vodka. Larguei de canto e não atenção a elas. Só conseguia me perguntar: Será? Será? será? Não podia ser. A fisionomia, o jeito, o andar eram idênticos, até mesmo os traços do rosto eram muito parecidos. Será?

Era loura, cabelos crespos e muito armados (o que lhe deixava com um ar muito selvagem), magra e com uma altura considerável, suas roupas coladas de couro preto, o cigarro que carregava pendurado nos lábios cuidadosamente pintados de roxo escuro, suas tatuagens de teia de aranha nos cotovelos e seu ar entediado. Tudo isso era o oposto do que ela fora, isso se considerarmos que seja ela. Fiquei parado alguns longos segundos, meio de boca aberta. Até que a figura misteriosa largou algum dinheiro no balcão. Foi até a mesa e apanhou o maço de cigarros que repousava sobre o tampo gelado e seguiu para fora do bar. Sem pensar, caminhei depressa até a porta, observando ela entrar com estilo no carro, retocar o batom e ligar o rádio do carro, meio fora de sintonia, meio alto e ligado em algum metal com letra satânica e se arrastar para longe dali, sob o sol forte que fazia e sob a nuvem de poeira que se levantou quando o carro de moveu. Eu ainda continuei parado e sem saber o que fora aquilo. O que aquilo significava? Em nenhum momento ela olhou para mim, pelo que eu observei.

E eu ainda continuava me perguntando: "Será?"

Low

Nada é tão certo e belo como parece ser. Sempre que levantamos aquele pano de seda, que cobre todos os seus tesouros, lá embaixo, no meio da prataria e objetos estranhos dourados, podemos ver alguns ossos secos, que se decopoem com o tempo que passa. É como se nada fosse real. E nada é, realmente, real. Por mais que você escute aquilo que tanto quer ouvir, você sabe lá no fundo que não é isso. Está errado. É como um ciclo. Você se sente bem, depois se sente mal por saber que aquilo não é real. E assim começa outra volta, que dará lugar a outra. E outra e isso jamais tem um fim. Podemos até mesmo nos distrair, enquanto assistimos esse filme ruim, podemos descobrir drogas novas que supram aqueles medos, fantasmas e dilemas. Tudo fica mais fácil assim, por mais que seja apenas uma máscara. Mas quem disse que máscaras não podem ser bonitas? O problema é que em determinado momento, ela simplesmente não serve mais, ou de repente ela cai no chão e quebra e se torna muito difícil manter aquela máscara intacta no rosto. Então, de qualquer forma, pensamos: Vale mesmo a pena mostrar aquilo que ninguém quer ver? Talvez sim, talvez não. E se não, palavras podem ser lançadas e com isso, trazendo mais alguns cortes e até mesmo umas cicatrizes profundas. Você vai olhar para o seu braço, olhando os poucos cortes que tem e vai pensar: Essa facada foi de fulano, essa navalhada fina e pequena foi de outro fulano. E assim será, até que um dia elas não signifiquem mais nada para você. O que pode demorar alguns dias, ou alguns anos, talvez nunca deixem de significar e elas sempre estarão lá para te lembrar o quão infeliz você foi/é. Você vai se cansar, talvez atravessar algumas noites acordado, sentado em algum canto da cidade, vislumbrando algumas luzer verdes e você vai se encher com isso, vai achar tudo muito bonito e ficará com cara de criança maravilhada, mas ao subir no metrô pela manhã, para se locomover até aquele lugar que você tanto tem medo, o vazio existencial voltará a te infernizar e, finalmente, ao abrir a porta de casa, você não encontrará ninguém. Ela estará completamente vazia e bagunçada. No fim, tudo se torna igual. Tudo sempre igual e repetitivo. Uma sucessão de fatos que ocorreram ontem, acontece hoje e com certeza amanhã ele retornará.

7 de jul. de 2010

Tell me about your ghost

Enquanto eu caminho, consigo exorcizar temporariamente alguns fantasmas. Mesmo que o efeito dure apenas uma noite, ainda assim é melhor do que viver o inferno que eu estava vivendo. Me desprendo de tudo e me solto da corda por alguns instantes. Consigo viver num mundo mais fácil, infinitamente mais simples. Ando com uma perna só, bato o pé no chão ao ritmo da música, cuspo água pra cima e por alguns instantes a rua vira minha. Não importa se alguém está olhando, não importa se estou sendo ridículo. Tudo se torna mais fácil, por alguns minutos até esqueço da vida e consigo dar uma risada de verdade, mesmo que sozinho. Consigo sentir qualquer coisa e tudo parece ter sentido. Consigo dormir com um sorriso no rosto, porque é um fato que os fantasmas desaparecem momentaneamente, até retornarem na manhã seguinte. E na outra. E na outra...

Black Balloon



I've stood in a thousand street scenes
Just around the corner from you
On the edge of a dream that you have
Has anybody ever told you it's not comin' true?

Farewell my black balloon

6 de jul. de 2010

Oi brasil

Hoje que eu acordei brilhante, belo e com todo mundo me adjimirando as pessoas inventaram de me irritar.

Bati tanta boca hoje.
Mas eu descobri que vicia.

QUERO MAIS!

5 de jul. de 2010

Um teto não familiar

Um teto não familiar. Olhando para um teto não familiar, eu apenas conseguia pensar no que eu tinha feito até agora. Porque era tão difícil se relacionar com as pessoas? Podia ouvir uma orquestra sinfônica formada por roncos de duas pessoas diferentes, bem ritmadas e um tanto irritantes. Porém estava até me divertindo com aquilo tudo, tirava um pouco o foco dos meus pensamentos. Não estava nenhum pouco triste, nem com raiva. Talvez o problema estivesse aí, eu ficaria muito feliz em ter algum sentimento naquele momento, Eu apenas fitava o teto, sem sentimentos. Mas com muitos pensamentos, como sempre. Minha cabeça não pára de trabalhar nunca, e mesmo nos momentos mais despretenciosos, sempre alguma coisa estará em foco dentro da massa cinzenta. Costumo dizer que um dia serei completamente abençoado pela minha cabeça, ou completamente fodido. Posso ser tanto um cara que criará alguma coisa muito essencial à humanidade (nem tão essencial assim, já teriam a inventado se ela tivesse essa importância toda) ou empurrarei algum carrinho de supermercado nas ruas da cidade, xingando inimigos invisíveis. Enfim, só o que eu queria era não pensar naquele momento. E é aí, na profundidade que eu atravesso a camada mais funda do meu incosciente, e todas as coisas vem à tona. Fazendo aquela bagunça enorme, que demora cerca de uns 7 a 10 dias para ser arrumada.