15 de jul. de 2010

Dia chuvoso

Ao entrar no vagão do metrô, notei um par de olhos me encarando. Olhei de volta e desviei o olhar rapidamente, odeio olhar diretamente no olho de estranhos. Nunca sei o grau de leitura de pensamentos deles, embora eu não estivesse pensando nada demais, sempre é bom proteger a minha cabeça. Não, não acredito na leitura de pensamento, não naquela que dizem que Deus faz, mas naquela historinha de que os olhos dizem muita coisa. E dizem mesmo. Então preferi guardar tudo pra mim e fiquei fitando a chuva grossa que caía lá fora. Intrigado que estava, olhei novamente para o par de olhos (com o rabo do olho) e percebi que ainda estava me encarando. Me senti invadido e, de certa forma, me embaracei inteirinho. Sempre fico assim quando me sinto observado por estranhos e sem saber suas intenções ao me olhar. Odeio olhares. Na hora eu não soube se deveria fazer alguma pose agradável, flertar por esporte ou se eu deveria continuar fingindo interesse pelas minhas unhas. Resolvi que continuar fingindo interesse pelas unhas seria melhor. Olhei para o lado de novo, meio fingindo que estava lendo uma notícia interessante na televisão do metrô e olhei diretamente nos seus olhos. Desviou. Covarde. Continuei na minha e peguei o celular do bolso, afim de mudar a música. O celular caiu no chão. Daí pra frente foi uma sucessão de pés, guarda-chuvas, bolsas, tudo molhado. Recuperado o celular, mudei para uma música feliz que nos conta como dezembro é um mês frio. Não me identifiquei graças às diferenças entre a linha do equador e não me senti triste com isso. Gosto de dezembro como ele é. Os olhos ainda estavam me encarando, sem expressão e eu só pude reparar na sua roupa. Uma roupa bonita. Um dia vestirei uma igualzinha. Um casaco bem estruturado. Me deu vontade de perguntar onde fora descolado, mas aí já seria demais e eu não sou tão cara de pau assim. Voltei a fingir interesse pelas minhas unhas e o maquinista (é maquinista?) anunciou a chegada da estação mais movimentada do metrô. Uma enxurrada de pessoas me colocou pra fora e quando entrei no vagão novamente, olhei em volta e não pude mais ver os olhos que me encaravam. Me senti aliviado. 

Um comentário:

cowy disse...

eu chamo carinhosamente de motorista de trem.

queria uma jaqueta. mentira, queria nada.