Parado na janela, observando duas crianças brigarem por causa de um caramujo morto. A expressão que pairava em seu rosto era de um vazio grande ou aquilo que muitos chamam de "inexpressão".
A televisão estava ligada num volume alto, provavelmente terminado em 5 ou 0, uma velha mania sua. Estava ali parado pensando na vida. Ou na semi-vida que carregava. Tinha vários problemas de saúde no fígado e no estômago, era frustrado por não ter conseguido ser designer de sucesso em Nova York, o máximo que conseguira na terra do Tio Sam fora meia dúzia de camisetas com frases medíocres e um papel com um telefone de uma pessoa escrito em letras feias. Além disso tudo era amargo. Sempre fora amargo, mas isso aumentou quando viu sua irmã bem-sucedida morando em Los Angeles com um marido rico e trabalhando em uma revista. E era magra, bem magra.
Possuía uma casa boa, mas não o bastante para seu vazio. A casa tinha muitas coisas que acumulara durante sua vida, tinha objetos que os jovens chamariam de descolados, tinha um computador à altura de seu talento (que já estava bem desgastado), tinha quadros grandes e coloridos, tinha uma geladeira enorme de duas portas que ele comprara numa liquidação abusrda, tinha muitos produtos light, embora suas preferências eram as guloseimas (rsrs), tinha shakes para emagrecer em cima da geladeira, tinha um sofá grande demais para sua solidão. Ele costumava chorar com a ausência de afeto que existia em qualquer ser a respeito dele.
Havia poucos amigos. Tinha uma amiga que era Designer digital, morava em um lugar que ele invejava secretamente, ela era casada e tinha um filho. Depois de certo tempo vivendo com excessos ela decidiu que converteria-se ao cristianismo.
Tinha uma outra que era casada com uma mulher e ele não via há anos. Não se sabia o que ela fazia e nem onde morava.
Tinha uma outra que se tornara extremamente rica e bem-sucedida. Morava em um bairro nobre e trabalhava com publicidade. Era casada com um homem rico. Não possuia filhos.
Tinha uma outra que era escriotora bilingue e que trabalhava na área de tradução de filmes pornográficos. Eles moraram juntos por um tempo, mas como tudo o que era bom, era ao mesmo tempo, passageiro. Ela morava agora no campo. Ela se cansou da vida na cidade.
A tarde corria...ele ainda pensando na sua solidão. Que já nem era mais tão triste, já que estava acostumado. Na sua juventude ele havia tentado se destruir de todas as formas possiveis, sendo um fracassado em todas aas tentativas e cansado de tentar, decidiu que seria mais fácil esperar a morte chegar naturalmente. Enquanto isso ele colocava óleo em uma frigideira para fritar rosquinhas doces.
3 comentários:
Onde eu me encaixo? Eu sou a com 1 filho?
Eu gosto tanto das coisas que vc escreve...
eu gostei desse.
não pq eu so podre de rica, (hahahah, senta lá cláudia) mas pq vc só estendeu sua depressão atual pro futuro, sem considerar os caminhos ainda a serem percorridos.
Espera a vida acontecer.
eu sou a designer digital convertida ao cristianismo que mora num lugar invejável, é casada e tem um filho ou sou a casada com uma mulher que some e não é vista por anos???
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