Deitado na cama, consigo ver a janela do quarto. Ainda está aberta, apesar do frio cortante que invade o cômodo, sendo reforçado ainda mais pelo fato de estar quase sem roupa. Trajava apenas uma bermuda e uma camiseta fininha de algodão. A noite estava mais escura. Não tenho certeza se isso é possível, mas alguma coisa estava diferente. Estava realmente mais escura, e eu ainda precisava sair para comprar cigarros. Senti um medo infantil repentino. Não havia motivo algum para ter medo, mas aquele escuro era amedrontador para mim no momento. Fechei os olhos e tentei sentir minha respiração, depois a minha pulsação. Tum! Tum! Tum! Ainda era possível ouvir o coração pulsando e bombando o sangue para todo o corpo. Confesso que foi uma sensação boa, nunca tinha pensado por esse ponto. Uma coisa tão simples quanto o sangue bombando pelo corpo me fez sentir vivo, enérgico. Quase pude enxergar órgãos vermelhos e com formas estranhas e lá por perto um coração assimétrico pulsando loucamente. Por alguns instantes esqueci que eu precisava sair e esqueci o medo do escuro da rua. Levantei num pulo, sentindo dificuldade pela dor terrível que carregava no estômago, vesti minha blusa e peguei uns trocados. Saí e o medo voltou.
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