Desde bem pequeno sempre fui acostumado com o pouco. Meus pais, até os meus 4 ou 5 anos de idade, foram muito pobres. Nunca fui a criança mais afortunada da turma, e não culpo meus pais por isso, na verdade isso nunca me importou tanto. Nunca fui a criança mais bonita, sempre fui desajeitado. Não fui uma criança planejado, o que não significa que os meus pais não me amavam, a diferença é que eu apenas não havia sido planejado e não tinha um enxoval me esperando, hoje sei que isso é uma bobagem e não influencia em nada na minha vida, mas saber disso quando ainda se é criança, realmente pode causar algumas coisas indesejáveis na sua cabeça, de modo, que cresci achando os meus pais não gostavam de mim da forma que eu era, somado ao fato de eu sempre me ver diferente das outras crianças e do mundo ao redor. Tudo foi um grande engano. Eu era amado de uma forma muito diferente do que eu idealizava o amor. Eu sempre tinha muitas pessoas ao meu redor, me agradando de diversas formas. Talvez por nunca acreditar nisso, eu não me tornei uma pessoa mimada.
Aos 12 anos achei que eu poderia viver sozinho, sem laço algum com qualquer ser vivente, afinal eu não fazia diferença alguma e ninguém precisava de mim. Outro erro. Eu fazia diferença dentre um pequeno universo e, querendo ou não, os meus pais e a minha família ainda precisava de mim, de alguma forma. Novamente me fechei.
Eu sempre estudei em escola particular, desde criança. Sempre me vi rodeado de crianças mais ricas do que eu e/ou mais bonitas. Elas sempre tiveram o que eu não tinha, sempre tiveram a beleza que eu não tinha e tudo o que me diferia do resto deles. Eu que sempre fui na minha, nunca fui mimado, e na medida do possível sempre tentei ser um bom filho, não tinha tanta coisa assim. Eles com seus espiritos mesquinhos, chorões e mimados, sempre tiveram tudo o que eu não tinha. A única coisa que eu tinha de destaque era o fato de saber desenhar. Sempre desenhei, desde criança. E talvez o fato de eu sempre tentar ser legal com as pessoas, afim de facilitar a minha sobrevivencia. Eu já não tinha dinheiro e beleza, só me restava ser legal, simpático, custando o que custasse. E assim sempre vivi, sem retorno algum, apenas mantendo a guarda.
Nunca sofri bullying em escolas. Nunca fui excluído propositalmente e nunca briguei de porrada. Sempre consegui manter um certo respeito por ser o "menino legal". Nunca passou disso. Eu era legal com todos, e eles permitiam que eu sobrevivesse no meio deles pacificamente. Era uma troca. Sempre fui a criança sonsa que jamais falava não. Era sempre sim, e com sorriso no rosto, mesmo que isso fosse contra a minha vontade.
Até hoje carrego traços disso. Não consigo falar um não tão facilmente e raramente consigo ofender uma pessoa por vontade própria. Hoje por exemplo, acordei no horario certinho, vim trabalhar e cheguei pontualmente. O prédio ainda estava fechado, o que me obrigou a ficar alguns 20 e tantos minutos na porta esperando alguém chegar. Aqui trabalhamos em dois, aos sábados. Revesando a criação e execução de materiais gráficos. O outro garoto apareceu aqui as 11h30 da manhã. E eu desde as nove me fodendo sozinho e fingindo que estava tudo bem.
Por muitas vezes, permito que as pessoas me massacrem, apenas por falta de iniciativa de magoar alguém. Permito que me magoem para não magoar. Isso não é racional, vindo da minha parte. Não está certo.
Talvez por isso eu vivo esperando para viver. Não acho que eu já esteja vivendo, fico aqui sempre na esperança de um dia começar a viver de verdade. Sei lá, algum dia que eu alcance o céu. Acordo cedo todos os dias, demoro cerca de uma hora para chegar ao meu trabalho, que é um lugar que mal posso ser eu mesmo, fingindo ser alguém que todo mundo quer que eu seja, sempre com problemas de dinheiro e sempre com alguma questão emocional pendente, tendo apenas como momento de relaxamento os domingos e ainda assim não recebo nada da vida. Só me fodo. Sempre. Fico pensando quando isso realmente vai mudar. O que mais preciso fazer?
Aliás, nem sei porque escrevi isso aqui. O máximo que eu vou receber é um "ok" de alguém, como sempre e nada vai mudar. De qualquer forma, escrever para pessoas fantasmas ainda é mais libertador do que continuar com isso tudo na cabeça, se infiltrando em cada entradinha do seu cérebro, fazendo você acreditar com ainda mais força que você é um merda.
4 comentários:
Hey cara...!
Te conheci nessa fase...e concordei plenamente quando você escreve "Nunca sofri bullying em escolas. Nunca fui excluído propositalmente e nunca briguei de porrada. Sempre consegui manter um certo respeito por ser o "menino legal". Nunca passou disso. Eu era legal com todos, e eles permitiam que eu sobrevivesse no meio deles pacificamente. Era uma troca. Sempre fui a criança sonsa que jamais falava não. Era sempre sim, e com sorriso no rosto, mesmo que isso fosse contra a minha vontade. "
Por muito tempo, pensei que a minhavida fosse se tornar uma vida de verdade. Mas sempre havia umobstáculo no caminho, algo a serultrapassado antes de começar a viver.Um trabalho não terminado, umaconta a ser paga...Aí sim, a vida de verdade começaria.Por fim, cheguei à conclusão deque esses obstáculos eram a minhavida de verdade.Essa perspectiva tem me ajudadoa ver que não existe um caminho paraa felicidade. A felicidade é o caminho.Assim, aproveite todos os momentos que você tem.E aproveite-os mais se você temalguém especial para compartilhar.Especial o suficiente para passar seu tempo.E lembre-se que o tempo não espera ninguém.Portanto, pare de esperar até quevocê termine a faculdade;até que você volte para faculdade;até que você perca 5 quilos;até que você ganhe 5 quilos;até que você tenha tido filhos;até que seus filhos tenham saído de casa;até que você se case;até que você se divorcie;até sexta à noite;até segunda de manhã;até que você tenha comprado umcarro ou uma casa nova;até que seu carro ou sua casa tenham sido pagos;até o próximo verão, outono, inverno;até que você esteja aposentado;até que a sua música toque;até que você tenha terminado seu drinque;até que você esteja sóbrio de novo;até que você morra...E decida que não há hora melhorpara ser feliz do que agora mesmo!Lembre-se:"Felicidade é uma viagem, não um destino." ( =]copy) Se cuida cara...e precisamos tomar uma cerveja!
Faz um tempo que venho acompanhando cada postagem do seu blog e de alguns amigos seus e apesar de muitas vezes me identificar, nunca comentei. Li o "ok" ontem e super me deu vontade de, sei lá, dizer que você não é o único, mas acho que já sabe. Mas me senti menos sozinha. Acontece que ainda estou nessa fase... Nunca estudei em escola particular, talvez eu esteja em "vantagem" por não precisar nem parecer legal. Ah, penso que sua geração foi a penúltima a aproveitar a infância, acho que foi isso que me deu vontade de praguejar seu praguejado. Minha geração que é a de mil novecentos e alguma coisa, na ZL de São Paulo, aproveitou tanto quanto. Isso é de um post antes, né? Que seja. E daí que aproveitei. E que você não ter sido feliz o quanto desejou quando era aparentemente legal no colégio, agora que trabalha, tem lá sua "independência", me deprimiu. Ok? Ok.
E eu aqui... uma tiazinha de 39 anos, que se emociona com post de um menino que nem conhece. Patetico isso não? Mas eu posso te dizer que você, praguejento filosófico, é um cara muito do interessante, que tem o dom mais fucking blaster de todos, que é desenhar. E isso, rapaz, já te tira da curva mediocre de pessoas que são somente OK. Ser OK deve ser tão triste, tão pobre, tão ínfimo... e isso, mesmo sem te conhecer posso afirmar que vc não é. Agora vai ser feliz que há um sol da molestia brilhando lá fora...
Pra mim, vc ainda é o melhor <3
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